segunda-feira, 14 de julho de 2008

Larissa por Fernanda

"Ser brotinho é poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que transbordam de sentido, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto."
(Paulo Mendes Campos)
Essa menina é uma flor - de amora. Um broto (gíria que ela detesta!) que quando canta tem uma voz que não sai. Fala com um sotaque da Paraíba; pode-se dizer (quem a escuta e não a conhece) que morou a vida toda lá pro Nordeste e Norte, entre a caatinga e o São Francisco, colhendo aqueles coquinhos de onde se extrai óleo - ah! as macadâmias - com sua cestinha de vime presa na cintura.
Ela pensa diferente, colorido. Tem olhar clínico para bons textos (que ela acha por aí e manda para mim porque sabe que eu gosto), bons livros (que me empresta e demora mais de um ano pra ter de volta) e bons filmes (que ela chora assistindo, depois me faz ver também, pra compartilhar o drama). Aprendo muita coisa com ela sobre cinema, literatura e tirinhas de jornal. Me mandou ver "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", ler "Para Uma Menina Com Uma Flor", e entrar no Depósito do Calvin (www.depositodocalvin.blogspot.com - ela tem uma caixa com historietas dele).
Rabisca suas idéias numas cartas que demora pra me entregar e filosofa no nosso caderno de conversações. Escreve coisas que eu não sei de onde vem. Sempre me surpreendo! Sensibilidade e sutileza ela tem no coração. Gosta, como eu, de guardar qualquer pedaço de vida: entradas de cinema, papéis de bala, bombom ou picolé, bilhetes adolescentes, cartas e guardanapos, fitas e fotos. Gosta de jujubas e escreve livros e livros por semana. Romântica, tem um pégasus dentro da alma - a asinha de liberdade que contrasta com seu ar retrô. Contagia quem está perto com um sorriso infantil e adorável e a voz miúda que pouco se ouve. Virou minha amiga assim, sendo tão sentimental e espontânea e me deixando ser quem sou.
Quando foi comprar um moletom, a calça coube em seus 173 centímetros, mas depois que lavou, encolheu, ficou que nem calça de pescador. Nesse dia, ela podia escolher mudar de vida, ter uma cabana na beira do mar e sonhar no vai e vem das marés, solta ao vento de fim de tarde escrevendo suas palavras entre barcos à vela e sal. O ar marítimo faria bem aos seus devaneios; cristalizaria suas emoções mais delicadas em tantos outros textos leves que ela sempre faz.
Mas ela disse, com aquele sotaque carregado nordestino, que com o tempo a gente encolhe, então, vai guardar o moletom rosa choque para quando for velhinha poder usar: "Quando eu tiver meus netinhos, uso minha calça nova que eles vão rabiscar com giz de cera sentados no meu colo enquanto conto a eles minhas historinhas!" (ela fala assim mesmo, sem vírgula, num respiro só!).
Gosta de música boa, tem um "quê" de Lisa Simpson (eu descobri que ela tem vontade de aprender a tocar sax!), e quando criança era diferente até brincando de casinha. Suas bonecas eram botões! Fazia camas de caixas de fósforo e roupas para eles. Hihihi! Que menina criativa! Que criança simpática! Que gentileza ela tem! Vem de berço!
Essa Larissa! Está a cada dia mais radiante, porque em vez de chorar eternamente pelos erros, aprende muito mais com eles e segue em frente de nariz em pé e olhar firme, sem perder a ternura e a simplicidade, suas características mais marcantes. Gosto de conversar com ela, porque ela é a menina que tem cheiro de amora e usa óculos e sorri, e porque ela é minha amiga e não desistiu de mim, quando outros me deixaram nas horas mais tristes. Eu queria agora ter um balão bem colorido para levá-la num passeio pelo céu; mas tenho medo é que ela fique por lá, perdida entre os anjos, com toda a sua candura e branqueza, tocando harpa e comendo marshmallows nas nuvens encantadas do paraíso tropical onde reina o sol!

sábado, 5 de julho de 2008

Fernanda por Larissa

"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De Sol quando acorda. De flor quando ri..."

(Carlos Drummond de Andrade)

Fereza gosta de músicas legais e coleciona todo tipo de coisas velhas, ela herdou jornais antigos e livros de versinhos e eu ainda lhe roubo seu álbum do “Amar é”. Ela pega meus livros e demora um ano para devolver, assiste filmes e diz que eu preciso assistir também porque eles são muito “a gente”, lê coisas por ai e me escreve pedacinhos do que leu misturados com o que achou.

Fê tem uma alma tão grande que não cabe no corpo pequeno, os pedaços ela carrega dentro de balões em forma de coração, com quem encontra ela deixa um desses balões. A flor gosta de apertar bochechas de crianças desconhecidas, quer ter três filhos e adotar mais um. Isso se antes ela não for morar no Tibet para criar suas ovelhas.

Ela aspira por um amor romântico da década de 50, quando se namorava no portão e se passeava pela praça de mãos dadas, quando compromisso sério era firmado diante do pai na sala, através de um pedido, mas quer ser livre para sair com os amigos e fazer tudo sem dar muitas satisfações.

Não existem limites para sua imaginação, ela é criativa por instinto. Nunca vi tantas cores em uma só pessoa. Ela costuma carregar um milhão de coisas quando sai de casa, muitos caderninhos e livros, aliás ela sempre está lendo mais de um livro, e sempre, sempre mesmo, reclama que não tem tempo de ler. Fê tem um problema a parte com a tecnologia, com o moderno. Sorte a dela que não é moderna. Mesmo assim eu espero que um dia ela consiga um celular que funcione, porque esse é de matar.

Mora em uma casinha lá em Burarama, mas vive mesmo é nos sonhos.

E ninguém além dela poderia ser o meu diário secreto ambulante.